Confraria do Torricado

Torricado: Prato típico ribatejano cuja confecção é tão secreta e complexa que merece a existência de uma Confraria em seu nome

segunda-feira, agosto 20, 2007

TEXTO DO DN DE SÁBADO

"Fartámo-nos de levar porrada na Azambuja"


Imortalizada pelo documentário de Thomas Harlan, a história da Torre Bela tornou-se na mais conhecida ocupação de terras no Ribatejo, no pós 25 de Abril. Mas a herdade do Duque de Lafões não foi a única a ser ocupada no Verão de 75. A partir dali, os homens que lideravam a ocupação tentaram estendê-la a propriedades vizinhas, chamando as populações a participar. Foram tendo mais ou menos sucesso: Berinçal, Marquesa, Ameixoeira, chegou mesmo a formar-se uma união de cooperativas da região (ASAGRO). Até que o "movimento" chegou à Azambuja.

"Íamos morrendo lá" é a frase que repete quem esteve na Quinta da Bafoa - propriedade que também pertencia aos Lafões. "Fartámo-nos de levar porrada. Fizeram uma fila, uns de um lado, outros do outro, a darem-nos com as caixas que usavam para a apanha do tomate. E nós no meio deles. Se calha cair, tinha morrido", relembra Wilson. Joaquim da Ereira diz o mesmo: "Tivemos que fugir, se não tínhamos ficado lá."

A Quinta da Bafoa tinha uma especificidade em relação às propriedades ocupadas até então. Se a adesão dos camponeses à ocupação da Torre Bela se funda na falta de trabalho que havia na zona e na perspectiva de o vir a ter, no caso da herdade da Azambuja o cenário era muito diferente.

A quinta tinha sido alugada pelos Lafões a um empresário da região - não só as terras eram fonte de trabalho, como o tomate ali cultivado era depois vendido a uma fábrica local para fazer sumo. Trabalhadores de um e outro lado - no caso camponeses e operários - receavam, com a ocupação, perder a fonte de rendimentos. Resultado: estava-se em finais de Outubro de 75, os homens vindos da Torre Bela (e não só) foram recebidos com os sinos a tocar a rebate na Azambuja. Sinal de perigo iminente. Alguns dos trabalhadores da herdade e da fábrica juntaram-se para esperar quem lá vinha. E para os mandar de volta. À porrada.